O incêndio que ocorreu no Grand Kartal Hotel em Kartalya - nas montanhas de Koroglu, na província de Bolu -, na terça-feira, deixou pelo menos 76 pessoas mortas e 51 feridas.
Testemunhas relataram uma sensação de horror e de impotência no momento em que os hóspedes gritavam por socorro e saltavam das janelas para escapar a um incêndio mortal que destruiu um hotel de 12 andares, numa estância de esqui, no noroeste da Turquia.
O incêndio no Grand Kartal Hotel, em Kartalya, na terça-feira, matou pelo menos 76 pessoas e causou 51 feridos. O incêndio ocorreu perto do início das férias escolares de inverno, que duram duas semanas, altura em que os hotéis da região de Bolu estão completamente lotados.
Halime Cetin, funcionário de um hotel vizinho, referiu: “Não havia ninguém por perto. Estavam a chamar os bombeiros. Estavam a partir as janelas. Alguns não aguentaram mais o fumo e as chamas e saltaram.”
Um colega, Esra Karakisa, disse, por sua vez: “Foi horrível. Estávamos aterrorizados. As pessoas estavam a gritar. Os gritos das crianças afetaram-nos especialmente. Queríamos ajudar, mas não havia nada que pudéssemos fazer. Não conseguia sequer olhar, era tão aterrador.”
As autoridades turcas destacaram seis procuradores para investigar as causas do incêndio, que terá começado na zona de restauração, no quarto andar do hotel revestido a madeira, e se propagou rapidamente aos andares superiores.
Pelo menos nove pessoas foram detidas para interrogatório, incluindo o proprietário do hotel.
As bandeiras dos edifícios governamentais e das missões diplomáticas turcas no estrangeiro foram baixadas a meia haste, numa altura em que a nação realiza um dia de luto, esta quarta-feira, pelas vítimas.
Apenas 45 dos 76 corpos foram identificados até agora, de acordo com o ministro do Interior, Ali Yerlikaya, em declarações no final de terça-feira. Um dos feridos encontrava-se em estado grave, enquanto 29 outros foram assistidos e já receberam alta hospitalar, de acordo com o Ministério da Saúde.
Autoridades e testemunhas indicaram que os esforços de salvamento foram dificultados pelo facto de parte do hotel de 161 quartos se localizar na encosta de um penhasco.
De acordo com o ministro do Turismo, Mehmet Nuri Ersoy, o hotel foi submetido a inspeções em 2021 e 2024, com os bombeiros a não terem comunicado quaisquer problemas.
Orações fúnebres
Esra Karakisa explicou ainda que acabou por trazer vestuário e água para os sobreviventes, enquanto outros se apressaram a trazer colchões para que as pessoas pudessem saltar, ou apoiaram escadas contra a parede para as ajudar a escapar.
Entre os que colocaram colchões no chão estava Baris Salgur, um empregado de limpeza de um hotel próximo.
"Eles diziam: 'Por favor, ajudem-nos, estamos a arder!' Diziam: 'Chamem os bombeiros'. Estávamos a tentar acalmá-los, mas não havia nada que pudéssemos fazer, também não conseguíamos entrar”, referiu Salgur, de 19 anos. “Era muito alto, não podíamos estender uma corda ou outra coisa qualquer, claro. Estávamos a tentar fazer o melhor que podíamos.”
“As pessoas saltaram de uma grande altura, não consegui olhar. Havia duas mulheres no último andar. As chamas tinham literalmente entrado na sala. Elas não aguentaram e saltaram”, disse ainda.
Salgur descreveu ter visto um homem nos pisos superiores com um bebé ao colo e a gritar por um colchão para onde pudesse atirar o bebé.
“Dissemos-lhe para ter um pouco mais de calma. Ele esperou, depois os bombeiros vieram e levaram-nos [para fora], mas infelizmente o bebé morreu por inalação de fumo”, referiu.
Esta quarta-feira, a Turquia começou a realizar as orações fúnebres pelos falecidos.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deslocou-se a Bolu, vindo da capital Ancara, para assistir ao funeral de oito membros da família Gultekin, que eram parentes de um funcionário do seu partido, atualmente no poder.
“Os nossos corações estão destroçados”, referiu Erdogan, durante o funeral de Zehra Sena Gultekin e do marido, dos seus quatro filhos e de outro familiar. “Que Deus nos dê paciência”, concluiu.