A Euronews conseguiu um raro o a uma das unidades de elite da Ucrânia, a Terceira Brigada de Assalto Separada. Num local não revelado, na região de Kiev, os formandos estão a ser colocados nas condições reais da violenta invasão russa e têm a tarefa de planear e executar um assalto.
Num local não revelado na região de Kiev, um grupo de ucranianos está a ser posto à prova e a ser treinado nas condições reais verificadas no decurso da invasão violenta da Rússia, com a tarefa de planear e executar um assalto.
Os formandos são todos recrutas que se candidataram explicitamente para se juntarem à Terceira Brigada de Assalto Separada, uma das mais prestigiadas e eficientes unidades ucranianas.
Uma brigada totalmente voluntária formada nos primeiros dias da invasão russa da Ucrânia, que vai já no quarto ano de duração, sendo que as suas tropas participaram em várias das batalhas mais intensas da guerra, de Bakhmut a Avdiivka.
Todos os meses, mais de 500 pessoas candidatam-se à Terceira Brigada de Assalto, atraídas pela reputação da unidade e pelo rigoroso processo de formação.
Todos os recrutas têm, num momento inicial, até dois meses de formação básica no campo de treino na região de Kiev, antes de serem transferidos para um local diferente para a fase seguinte. Todos os instrutores são soldados de assalto que ficaram feridos e que têm experiência no campo de batalha.
Esta abordagem à formação dos recrutas é fundamental, considera um dos instrutores, que é conhecido pelo indicativo "Gera".
"Estamos a ganhar força todos os dias. Cada vez mais pessoas se juntam à nossa unidade porque mostramos um elevado profissionalismo, tanto na linha da frente, como na fase de recrutamento", referiu "Gera", à Euronews.
"Na fase de formação militar básica, eles são submetidos a um nível de treino muito elevado."
"O inimigo não pára, por isso é preciso parar o inimigo. Se o inimigo investe em quantidade, nós investimos em qualidade", explicou "Gera".
Afirmou ainda que, anos após o início da invasão em larga escala da Rússia, as pessoas deveriam estar mais do que motivadas para se juntarem às forças de defesa.
"Porque, nesta altura, qualquer pessoa já deve ter percebido que precisa de dar este o e defender a sua pátria. O quarto ano", destacou.
"Como é que as pessoas não se sentem motivadas a dar um o para defender a sua pátria e pôr fim a esta guerra?"
A necessidade de enfrentar os medos
Não são apenas os recrutas que dão mostras de dinamismo, mas também os civis. A Terceira Brigada de Assalto Separada dá a todos uma verdadeira amostra do campo de treino militar, durante a chamada "Semana Experimental".
Durante sete dias, os recrutas aprendem a utilizar as armas, estudam medicina de combate e melhoram a sua condição física.
A Euronews assistiu ao exercício numa clareira que serve de campo de batalha improvisado.
Reunidos em grupos com os recrutas, os civis que participam na "Semana Experimental" aprendem a deslocar-se e a reagrupar-se durante um ataque, a dar cobertura aos seus colegas soldados e a retirar os feridos de zonas de perigo.
Tudo é tão realista e próximo da experiência real do campo de batalha quanto possível, exceto os modelos no lugar de armas, drones e minas reais. De tempos a tempos, explodem foguetes, simulando granadas e fogo de artilharia.
A mobilização militar na Ucrânia não envolve o recrutamento de mulheres. Mas muitas estão aqui a participar na "Semana Experimental".
A Euronews falou com Valeria, uma jovem de 20 anos com formação em medicina que está a realizar a formação no campo. Valeria diz que toda a gente deve estar preparada e pronta para a guerra.
"Nunca posso estar confiante em relação ao dia de amanhã e não posso ter a certeza de que o dia de amanhã não vai ser igual ao de 24 de fevereiro de 2022 e ter, pelo menos, alguma formação básica, uma compreensão básica da situação em geral, seria muito bom, tanto em medicina, como em tática", referiu Valeria.
Valeria sente-se mais confiante após uma semana de formação e mais preparada para a vida quotidiana na Ucrânia.
"Ao experimentar os ataques de mísseis e drones todas as noites, é bom saber como prestar os primeiros socorros em caso de acidente. Penso que todas as pessoas deviam saber isto."
Já Roman, 47 anos, diz que também não tinha qualquer experiência militar anterior, razão pela qual queria "experimentar como seria estar dentro de tudo isto e ver como é".
"Como se costuma dizer, é preciso experienciar. As pessoas dizem-nos uma coisa, mas quando vamos lá e tentamos, quando caímos na lama e perdemos a voz, começamos a perceber que não é assim tão fácil", explicou Roman à Euronews.
Tal como Valeria, aconselha as pessoas a irem ao campo de treino militar e a tentarem enfrentar os seus medos. "Olhando para a guerra de fora, através dos meios de comunicação social, tudo parece mais assustador do que é na realidade. Quando se vem para cá, vê-se tudo de uma forma completamente diferente", explicou Roman.
Enquanto os ucranianos sabem e compreendem o que é a guerra, muitos na Europa não a conseguem entender totalmente. "Para compreender isto, é preciso viver aqui neste país e perceber porque estamos em guerra, as razões em geral."
"Nunca houve uma guerra como a que estamos a enfrentar atualmente", acrescentou "Gera".
É por isso que, na sua opinião, a experiência da Ucrânia é inestimável para os exércitos estrangeiros. "Se antes os conflitos não eram em tão grande escala, agora temos um muito maior, onde estamos a usar drones, artilharia e muitas das armas mais recentes", salientou "Gera".
"Muitas das armas utilizadas atualmente na Ucrânia nem sequer existiam durante os conflitos armados anteriores", afirmou, acrescentando que o exército ucraniano não é mais fraco do que os militares estrangeiros, "porque está a melhorar e a inovar todos os dias".
"Demos os importantes em termos de inovações militares, incluindo armas não tripuladas. Já temos drones que consegurem retirar soldados feridos [de zonas de perigo]. Estamos a evoluir e a inovar nas táticas de combate, nas táticas de movimento, no combate em veículos e na utilização de equipamento."
Há muito a aprender com os militares ucranianos, de acordo com "Gera". "Os ucranianos serão contratados como instrutores não apenas na Ucrânia", concluiu.