{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2015/12/18/os-espanhois-sentem-que-o-pais-vai-melhor" }, "headline": "Os espanh\u00f3is sentem que o pa\u00eds vai melhor?", "description": "A Espanha regressou realmente ao caminho do crescimento? O governo aponta para o fim da crise. Mas, para grande parte da classe m\u00e9dia, as coisas n\u00e3o s\u00e3o bem assim.", "articleBody": "A regi\u00e3o de Arag\u00e3o, em Espanha, \u00e9 considerada um bar\u00f3metro eleitoral: normalmente, o partido que ganha aqui, conquista todo o pa\u00eds. No entanto, as elei\u00e7\u00f5es de 20 de dezembro trazem mais inc\u00f3gnitas do que \u00e9 costume. O governo anuncia que a crise terminou porque a economia est\u00e1 a crescer a um ritmo de 3%. Mas n\u00e3o \u00e9 dif\u00edcil encontrar quem n\u00e3o entenda a realidade dos n\u00fameros. Charo Mart\u00edn vive em Sarago\u00e7a. A reforma que recebe \u00e9 relativamente reduzida, mas d\u00e1 para ir ajudando o seu filho de 36 anos, que est\u00e1 desempregado. Ainda n\u00e3o foi necess\u00e1rio acolh\u00ea-lo de novo em casa, ao contr\u00e1rio do que acontece com alguns dos seus amigos. \u201cOs nossos filhos est\u00e3o no desemprego. Tenho uma amiga que teve de receber em casa a filha, o marido e os filhos deles \u2013 ao todo, s\u00e3o cinco. Felizmente, o n\u00facleo familiar em Espanha, como acontece noutros pa\u00edses mediterr\u00e2nicos, ainda funciona. As pessoas colaboram, h\u00e1 solidariedade familiar\u201d, considera. Pela primeira vez desde 1999, a Espanha registou, durante o primeiro semestre deste ano, uma taxa de mortalidade superior \u00e0 da natalidade. \u201cFicas sem trabalho. At\u00e9 podes vir a encontrar qualquer coisa. Mas entretanto o tempo a. Esperas meses, anos at\u00e9 arranjar emprego, at\u00e9 ter alguma estabilidade na tua vida, at\u00e9 poder ter estabilidade emocional. Por isso \u00e9 que digo que o sistema em que vivemos \u00e9 desumano\u201d, declara Charo. Os mais velhos t\u00eam de ar uma carga que n\u00e3o parou de crescer. O aumento que o governo conservador previu para as pens\u00f5es, em janeiro de 2016, volta a ser o m\u00ednimo legal, 0,25%, fasquia abaixo da infla\u00e7\u00e3o. Pablo L\u00f3pez tem 41 anos, est\u00e1 desempregado h\u00e1 seis meses e a sua fam\u00edlia n\u00e3o o pode ajudar financeiramente. Recebe um magro subs\u00eddio mensal devido a um problema de sa\u00fade. a diariamente horas ao computador \u00e0 procura de emprego, a enviar curr\u00edculos. Pablo diz que tem havido um pouco mais de oportunidades no mercado, mas nada de muito significativo. O problema, salienta, \u00e9 a idade: \u201cH\u00e1 subs\u00eddios para as empresas contratarem pessoas entre os 20 e os 30, 35 anos. Mas a faixa dos 35 aos 45, quando j\u00e1 se tem bastante experi\u00eancia, \u00e9 exclu\u00edda. S\u00f3 come\u00e7a a haver subs\u00eddios de novo a partir dos 45\u2026 As pessoas com experi\u00eancia n\u00e3o t\u00eam as oportunidades que deveriam ter.\u201d Partilhar casa, por exemplo \u2013 \u00e9 algo que Pablo, como muitos outros, se v\u00ea for\u00e7ado a fazer. Os velhos h\u00e1bitos de vida moldam-se em torno das car\u00eancias econ\u00f3micas. \u201cAs pessoas que est\u00e3o ativamente \u00e0 procura de emprego podem receber o subs\u00eddio de desemprego ou alguma ajuda\u2026 Mas t\u00eam sempre de eliminar rotinas do dia a dia. O que \u00e9 preciso \u00e9 pagar as despesas: a renda, a eletricidade, a \u00e1gua, a alimenta\u00e7\u00e3o, o vestu\u00e1rio. Claro que h\u00e1 coisas que eu gostaria de fazer, mas que n\u00e3o posso: ir a um gin\u00e1sio, ar um fim de semana com amigos, tomar um caf\u00e9 de vez em quando. Tamb\u00e9m se gasta dinheiro a andar por a\u00ed a procurar emprego\u201d, afirma. Muitos jovens receiam mergulhar neste tipo de viv\u00eancia. Nacho Serrano tem 20 anos e \u00e9 estudante de Direito. O desemprego entre os jovens de menos de 24 anos em Espanha \u00e9 superior a 50%. Para seguir a carreira de advogado, \u00e9 obrigat\u00f3rio fazer um mestrado que custa cerca de 2500 euros. E \u00e9 claro que, no final, o emprego est\u00e1 longe de garantido. Na verdade, Nacho pondera dedicar-se ao Direito Internacional para poder emigrar. Segundo ele, \u201cem geral, a vis\u00e3o do futuro aqui \u00e9 muito pessimista. Mas tamb\u00e9m as pessoas tentam n\u00e3o pensar muito nisso. Dizem: \u2018OK, por agora, as coisas est\u00e3o bem. Tenho casa, os meus pais d\u00e3o-me algum dinheiro, fa\u00e7o o meu curso, posso arranjar um biscate para ajudar\u2026\u2019 N\u00e3o se pensa muito no que vem a seguir, porque as perspetivas n\u00e3o s\u00e3o as melhores.\u201d Nacho n\u00e3o esconde a frustra\u00e7\u00e3o que sente quando compara a situa\u00e7\u00e3o atual com as oportunidades e as expetativas que as gera\u00e7\u00f5es anteriores podiam ter. Nem ele, nem o seu c\u00edrculo de amigos. Todos pensam em emigrar. Raul \u00e9 estudante de mestrado em Engenharia; Alexandra tamb\u00e9m frequenta o curso de Direito; e Javier acabou de terminar a licenciatura em Hist\u00f3ria. Para Javier, \u201ch\u00e1 uma grande diferen\u00e7a nas oportunidades que existem. Antes as pessoas quase que podiam escolher. Nem sempre era f\u00e1cil, mas havia muito mais din\u00e2mica. E os sal\u00e1rios eram outros. Come\u00e7ava-se a trabalhar, recebia-se um sal\u00e1rio que garantia a independ\u00eancia, podia-se sair de casa\u2026 Hoje em dia, \u00e9 imposs\u00edvel.\u201d J\u00e1 Raul considera que \u201cse tiver de trabalhar numa \u00e1rea que n\u00e3o \u00e9 a minha, vou estar a prejudicar a minha experi\u00eancia no futuro. Para arranjar um emprego, perguntam-te que experi\u00eancia \u00e9 que tens. Se n\u00e3o tiveres porque estiveste a trabalhar noutra coisa completamente diferente, est\u00e1s a perder a possibilidade de um dia vires a fazer aquilo que gostas. Mais vale ir para o estrangeiro e trabalhar na \u00e1rea em que estudaste, para continuares a aprender e a acumular experi\u00eancia, do que ficar aqui s\u00f3 para ganhar a vida.\u201d No entanto, salienta tamb\u00e9m que, l\u00e1 fora, as condi\u00e7\u00f5es tamb\u00e9m n\u00e3o s\u00e3o propriamente fant\u00e1sticas: \u201cQuando fiz Erasmus, conheci um belga que tamb\u00e9m estudava Engenharia e que dizia que os engenheiros espanh\u00f3is eram considerados\u2026 n\u00e3o vou dizer palavr\u00f5es, mas que eram como p\u00e1rias na B\u00e9lgica, porque estavam dispostos a trabalhar por metade ou um quarto do sal\u00e1rio de um engenheiro belga. Ou seja, no estrangeiro as condi\u00e7\u00f5es s\u00e3o melhores, mas tamb\u00e9m n\u00e3o s\u00e3o fant\u00e1sticas.\u201d Tal como noutros pa\u00edses, as gera\u00e7\u00f5es mais novas, mais qualificadas, v\u00eaem-se perante o caminho da emigra\u00e7\u00e3o massiva, repetindo possivelmente o distanciamento que marcou as suas pr\u00f3prias fam\u00edlias nos anos 60 e 70.", "dateCreated": "2015-12-18T11:02:49+01:00", "dateModified": "2015-12-18T11:02:49+01:00", "datePublished": "2015-12-18T11:02:49+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F318667%2F1440x810_318667.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "A Espanha regressou realmente ao caminho do crescimento? O governo aponta para o fim da crise. Mas, para grande parte da classe m\u00e9dia, as coisas n\u00e3o s\u00e3o bem assim.", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F318667%2F432x243_318667.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": [ { "@type": "Person", "familyName": "Prud\u00eancio", "givenName": "Nuno", "name": "Nuno Prud\u00eancio", "url": "/perfis/542", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "jobTitle": "Journaliste", "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "R\u00e9daction" } } ], "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "S\u00e9rie: a minha Europa" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }

Os espanhóis sentem que o país vai melhor?

Os espanhóis sentem que o país vai melhor?
Direitos de autor 
De Nuno Prudêncio
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

A Espanha regressou realmente ao caminho do crescimento? O governo aponta para o fim da crise. Mas, para grande parte da classe média, as coisas não são bem assim.

A região de Aragão, em Espanha, é considerada um barómetro eleitoral: normalmente, o partido que ganha aqui, conquista todo o país. No entanto, as eleições de 20 de dezembro trazem mais incógnitas do que é costume. O governo anuncia que a crise terminou porque a economia está a crescer a um ritmo de 3%.

Mas não é difícil encontrar quem não entenda a realidade dos números. Charo Martín vive em Saragoça. A reforma que recebe é relativamente reduzida, mas dá para ir ajudando o seu filho de 36 anos, que está desempregado. Ainda não foi necessário acolhê-lo de novo em casa, ao contrário do que acontece com alguns dos seus amigos.

“Os nossos filhos estão no desemprego. Tenho uma amiga que teve de receber em casa a filha, o marido e os filhos deles – ao todo, são cinco. Felizmente, o núcleo familiar em Espanha, como acontece noutros países mediterrânicos, ainda funciona. As pessoas colaboram, há solidariedade familiar”, considera.

Pela primeira vez desde 1999, a Espanha registou, durante o primeiro semestre deste ano, uma taxa de mortalidade superior à da natalidade. “Ficas sem trabalho. Até podes vir a encontrar qualquer coisa. Mas entretanto o tempo a. Esperas meses, anos até arranjar emprego, até ter alguma estabilidade na tua vida, até poder ter estabilidade emocional. Por isso é que digo que o sistema em que vivemos é desumano”, declara Charo.

Os mais velhos têm de ar uma carga que não parou de crescer. O aumento que o governo conservador previu para as pensões, em janeiro de 2016, volta a ser o mínimo legal, 0,25%, fasquia abaixo da inflação.

Pablo López tem 41 anos, está desempregado há seis meses e a sua família não o pode ajudar financeiramente. Recebe um magro subsídio mensal devido a um problema de saúde. a diariamente horas ao computador à procura de emprego, a enviar currículos. Pablo diz que tem havido um pouco mais de oportunidades no mercado, mas nada de muito significativo. O problema, salienta, é a idade: “Há subsídios para as empresas contratarem pessoas entre os 20 e os 30, 35 anos. Mas a faixa dos 35 aos 45, quando já se tem bastante experiência, é excluída. Só começa a haver subsídios de novo a partir dos 45… As pessoas com experiência não têm as oportunidades que deveriam ter.”

Partilhar casa, por exemplo – é algo que Pablo, como muitos outros, se vê forçado a fazer. Os velhos hábitos de vida moldam-se em torno das carências económicas. “As pessoas que estão ativamente à procura de emprego podem receber o subsídio de desemprego ou alguma ajuda… Mas têm sempre de eliminar rotinas do dia a dia. O que é preciso é pagar as despesas: a renda, a eletricidade, a água, a alimentação, o vestuário. Claro que há coisas que eu gostaria de fazer, mas que não posso: ir a um ginásio, ar um fim de semana com amigos, tomar um café de vez em quando. Também se gasta dinheiro a andar por aí a procurar emprego”, afirma.

Muitos jovens receiam mergulhar neste tipo de vivência. Nacho Serrano tem 20 anos e é estudante de Direito. O desemprego entre os jovens de menos de 24 anos em Espanha é superior a 50%. Para seguir a carreira de advogado, é obrigatório fazer um mestrado que custa cerca de 2500 euros. E é claro que, no final, o emprego está longe de garantido. Na verdade, Nacho pondera dedicar-se ao Direito Internacional para poder emigrar.

Segundo ele, “em geral, a visão do futuro aqui é muito pessimista. Mas também as pessoas tentam não pensar muito nisso. Dizem: ‘OK, por agora, as coisas estão bem. Tenho casa, os meus pais dão-me algum dinheiro, faço o meu curso, posso arranjar um biscate para ajudar…’ Não se pensa muito no que vem a seguir, porque as perspetivas não são as melhores.”

Nacho não esconde a frustração que sente quando compara a situação atual com as oportunidades e as expetativas que as gerações anteriores podiam ter. Nem ele, nem o seu círculo de amigos. Todos pensam em emigrar. Raul é estudante de mestrado em Engenharia; Alexandra também frequenta o curso de Direito; e Javier acabou de terminar a licenciatura em História.

Para Javier, “há uma grande diferença nas oportunidades que existem. Antes as pessoas quase que podiam escolher. Nem sempre era fácil, mas havia muito mais dinâmica. E os salários eram outros. Começava-se a trabalhar, recebia-se um salário que garantia a independência, podia-se sair de casa… Hoje em dia, é impossível.”

Já Raul considera que “se tiver de trabalhar numa área que não é a minha, vou estar a prejudicar a minha experiência no futuro. Para arranjar um emprego, perguntam-te que experiência é que tens. Se não tiveres porque estiveste a trabalhar noutra coisa completamente diferente, estás a perder a possibilidade de um dia vires a fazer aquilo que gostas. Mais vale ir para o estrangeiro e trabalhar na área em que estudaste, para continuares a aprender e a acumular experiência, do que ficar aqui só para ganhar a vida.” No entanto, salienta também que, lá fora, as condições também não são propriamente fantásticas: “Quando fiz Erasmus, conheci um belga que também estudava Engenharia e que dizia que os engenheiros espanhóis eram considerados… não vou dizer palavrões, mas que eram como párias na Bélgica, porque estavam dispostos a trabalhar por metade ou um quarto do salário de um engenheiro belga. Ou seja, no estrangeiro as condições são melhores, mas também não são fantásticas.”

Tal como noutros países, as gerações mais novas, mais qualificadas, vêem-se perante o caminho da emigração massiva, repetindo possivelmente o distanciamento que marcou as suas próprias famílias nos anos 60 e 70.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Espanha: Reforma constitucional pendente

Espanha: A essência de um país vai a votos

França depois dos atentados de 2015