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Entende, por isso, que neste momento s\u00f3 existe \u201cuma solu\u00e7\u00e3o\u201d: que a \u201ela Europa virar-se para a \u00c1sia, para a China\u201d, sendo que \u201ca China est\u00e1 disposta\u201d a colaborar nesse sentido.E numa altura em que o bloco europeu est\u00e1 \u201caltamente enfraquecido, com uma popula\u00e7\u00e3o envelhecida, com um d\u00e9fice de popula\u00e7\u00e3o ativa e um crescimento an\u00e9mico\u201d, ser\u00e1 certo que ar\u00e1 \u201or dificuldades imensas se n\u00e3o puder contar com o parceiro de sempre, os Estados Unidos da Am\u00e9rica\u201d.Um \u201er\u00edodo muit\u00edssimo complexo\u201d para a economia portuguesaSobre se tal cen\u00e1rio poder\u00e1 \u2013 ou n\u00e3o \u2013 ter um impacto na economia portuguesa, Jo\u00e3o Rodrigues dos Santos nota que \u201c\u00e9 prov\u00e1vel que sim, colateralmente, ainda que n\u00e3o existam estudos muito bem desenvolvidos relativamente a isso\u201d. 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Guerra comercial de Trump: que impacto podem ter as novas medidas tarifárias sobre Portugal?

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Direitos de autor Alex Brandon/Copyright 2025 The AP. All rights reserved.
Direitos de autor Alex Brandon/Copyright 2025 The AP. All rights reserved.
De Ema Gil Pires
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Em declarações à Euronews, o economista João Rodrigues dos Santos alertou que as consequências das medidas já anunciadas pelos Estados Unidos serão essencialmente “indiretas” – indicando que podem levar a uma subida nos custos de produção de bens e serviços e nos preços para os consumidores.

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O novo ano iniciou-se com a incerteza relativa ao que à presidência de Donald Trump nos Estados Unidos, que tomou posse a 20 de janeiro, significaria para o contexto internacional. Para além do impacto que a sua postura mais agressiva poderia ter sobre a guerra na Ucrânia, muitos receavam sobre que medidas de natureza económica viriam a ser implementadas.

Poucos dias após assumir a liderança do país, surgia o anúncio de que os Estados Unidos pretendiam impor tarifas aduaneiras de 25% ao Canadá e ao México, juntamente com taxas adicionais de 10% sobre as importações chinesas – que ascendem, assim, aos 20%. Taxas essas que foram confirmadas esta semana por Donald Trump e motivaram anúncios de medidas de retaliação por parte dos visados.

Mas a União Europeia também será impactada. Em finais de fevereiro, o presidente norte-americano anunciou que se preparava para aplicar, em breve, taxas alfandegárias de 25% sobre os produtos europeus. Isto já depois de ter indicado que, a partir de 12 de março, a todas as importações de alumínio e aço para Washington – incluindo as provenientes da União Europeia – seria imposta uma tarifa de 25%.

Mas que impacto terá esta nova política tarifária de Trump sobre Portugal? À Euronews, João Rodrigues dos Santos, docente coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia, explica que “é certo que para Portugal, sendo uma economia pequena e que está aberta ao exterior, existirão sempre algumas consequências que resultarão diretamente da aplicação de tarifas por parte dos Estados Unidos da América à União Europeia”.

É que, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em fevereiro, entre os mercados para os quais Portugal vende mais do que compra, Washington é o que mais se destaca, tendo em 2024 sendo o país com o qual Lisboa teve um maior saldo excedentário (2.903 milhões de euros no ano ado).

Além disso, no último trimestre de 2024, os Estados Unidos foram o quarto país para onde Portugal mais exportou (1,3 mil milhões de euros) e, no campo das importações, o nono principal fornecedor (706 milhões de euros).

No entanto, notou o especialista à Euronews, Portugal está “muito pouco exposto” ao impacto direto destas taxas, visto que “as tarifas ainda não incidem sobre produtos acabados, apenas sobre matéria-prima”. Tratam-se de consequências, portanto, cujo “impacto macro não é um muito significativo” e que afetarão “um conjunto que será sempre de empresas” – embora, “para essas empresas, o mundo possa desabar”.

Entidades essas que, tendo “menos encomendas” por parte de Washington, “vão ter necessariamente de reorganizar e gerir custos”, o que poderá resultar, por exemplo, na “diminuição do número de trabalhadores” das empresas afetadas e na “reestruturação do seu planeamento da produção”, entre outros.

Ainda assim, é possível estimar “quais são as atividades que em Portugal estão mais expostas ao mercado norte-americano” – e, por conseguinte, a medidas desta natureza –, como “a indústria química, sobretudo no que toca aos medicamentos e ao setor farmacêutico”, a “produção de plásticos e borrachas”, ou “mesmo o aço, que já é objeto de tarifas, e o alumínio”.

A título de exemplo, aponta o docente da Universidade Europeia, olhando para a indústria farmacêutica, “30% da produção total do setor, em Portugal, vai para os Estados Unidos”. 

Além disso, indica que, de uma forma indireta, o país poderá ainda “ter muitas dificuldades, porque a Alemanha, sendo um dos principais clientes das exportações portuguesas e sendo um dos principais, ou o principal, dos 27 Estados-membros, afetados pelas tarifas” – nomeadamente na indústria automóvel –, o país vai, colateralmente, sentir o efeito negativo” da sua implementação.

O “efeito indireto”

Para além deste “impacto ao nível das exportações”, que poderá ser sentido na sequência da aplicação de taxas aduaneiras por parte do executivo de Trump, o economista recordou que a mais que provável aplicação, por parte da União Europeia, de “medidas de retaliação”, pode “refletir-se no nível de importações”.

Para João Rodrigues dos Santos, “o que pode acontecer a Portugal, até de extraordinariamente pesado, não resulta do efeito direto [das medidas dos Estados Unidos], mas sim do efeito indireto, porque somos uma economia pequena e porque estamos abertos ao exterior”.

Sabendo que “vivemos numa economia global”, isso significa que “as economias estabelecem interações comerciais à escala global”, pelo que “têm a oportunidade de especializar as suas atividades na produção dos bens e serviços que produzem com custos mais baixos, precisamente porque podem importar das outras, com quem estabelecem interação comercial, o que as outras também produzem com custos mais baixos”.

Por outras palavras, “gera-se aqui uma lógica de eficiência que se transforma em valor acrescentado para todos” – aparentando, elucidou o especialista, que os Estados Unidos pretendem agora “quebrar esta lógica”.

Assim, “não podendo a Europa” – e, consequentemente, Portugal – “beneficiar dos recursos e da matéria-prima, sejam bens finais ou bens intermédios, que vêm dos Estados Unidos e que são lá produzidos com custos mais baixos, vai ter de os produzir a partir dos recursos que tem internamente, ou orientando-se para outras geografias”.

No entanto, elucida, “quer uma, quer outra possibilidade encarecerá sempre a produção, na medida em que, se assim não fosse, já estaríamos a produzir internamente ou a importar de outros lados”.

E, contas feitas, “essa lógica refletir-se-á, em última instância, nos preços de venda ao consumidor final”, pelo que “voltaremos a ter inflação”. Conclui o economista: “Isto é líquido que vai acontecer se não nos orientarmos para outro lado, para tentar mitigar o impacto sobre os custos de produção que estas tarifas vão desencadear”.

As previsões divulgadas pelo Banco de Portugal em dezembro dão conta de que a inflação deveria baixar para os 2,1% no ano de 2025 –  à semelhança da Zona Euro –, pelo que as mesmas poderão estar agora comprometidas, devido à expetativa de uma nova guerra comercial.

Sobre se Portugal terá capacidade para fazer face a tal situação de forma independente, João Rodrigues dos Santos considerou que “nem Portugal, nem a Europa”. Entende, por isso, que neste momento só existe “uma solução”: que a “pela Europa virar-se para a Ásia, para a China”, sendo que “a China está disposta” a colaborar nesse sentido.

E numa altura em que o bloco europeu está “altamente enfraquecido, com uma população envelhecida, com um défice de população ativa e um crescimento anémico”, será certo que ará “por dificuldades imensas se não puder contar com o parceiro de sempre, os Estados Unidos da América”.

Um “período muitíssimo complexo” para a economia portuguesa

Sobre se tal cenário poderá – ou não – ter um impacto na economia portuguesa, João Rodrigues dos Santos nota que “é provável que sim, colateralmente, ainda que não existam estudos muito bem desenvolvidos relativamente a isso”. Acrescenta, no entanto, que “o Goldman Sachs refere que a inflação subjacente, ou seja, aquela que exclui, por exemplo, os bens alimentares e os produtos energéticos, possa estar, no primeiro semestre de 2026 em 3,1% na Zona Euro, quando sem as tarifas de Trump estaria nos 2%”.

O economista recorda ainda que o país vive, atualmente “um período muitíssimo complexo”, pelo que um “ressurgimento do processo inflacionário nesta fase para um país que vê a sua população mais qualificada a fugir em massa é absolutamente devastadora”.

Numa altura em que, destaca o especialista, Portugal apresenta um “crescimento enfraquecido” – ainda que mais elevado do que o da Zona Euro e da União Europeia -, a “perspetiva, infelizmente, não é a melhor,  porque não conseguimos aumentar salários, produzir mais e, consequentemente, aumentar a riqueza” nacional.

De recordar, de facto, que de acordo com as previsões do Banco de Portugal, a economia portuguesa deverá crescer 2,2% em 2025, acima dos 1,1% previstos para a Zona Euro. E que, segundo a mais recente estimativa de crescimento anual divulgada pelo Eurostat, no quarto trimestre de 2024, o PIB de Portugal cresceu 1,5%, acima dos 0,2% e 0,1% registados na União Europeia e na Zona Euro, respetivamente.

E mesmo que o Banco Central Europeu (BCE) opte por não subir as taxas de juro para fazer face a este expectável surto inflacionário – algo que, no entanto, fez no ado, para combater o aumento dos preços causados pela guerra na Ucrânia – , “não há dúvidas de que as fragilidades socioeconómicas vão vir todas ao de cima”, aponta João Rodrigues dos Santos. Sendo certo que existe já “uma boa parte da franja populacional, mesmo quem tem emprego, a viver com grandes dificuldades” – pelo que, “se os preços subirem estruturalmente”, as dificuldades seriam ainda mais acentuadas.

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