Trata-se de um reconhecimento indireto do escândalo de abusos sexuais que envolveu o vencedor do Prémio Nobel da Paz, D. Carlos Ximenes Belo.
O Papa Francisco chegou a Timor na segunda-feira, onde foi recebido por uma multidão eufórica que aguardava nas ruas a comitiva papal. Logo no aeroporto, foi entregue ao sumo pontífice um cachecol com as cores tradicionais, que Francisco usava quando foi saudado pelo presidente timorense José Ramos-Horta e o primeiro-ministro Xanana Gusmão, dois dos mais venerados heróis da independência de Timor-Leste, que saudaram Francisco no aeroporto e reuniram-se com ele em privado.
Seguiu-se depois o primeiro discurso do Papa em terras timorenses, no encontro com as autoridades, a sociedade civil e o Corpo Diplomático em Dili, no Palácio Presidencial, onde o Papa lembrou os mais jovens. “Não nos esqueçamos de tantas crianças e adolescentes cuja dignidade foi ferida", disse.
"Este fenómeno está a surgir em todo o mundo e todos nós somos chamados a agir de forma responsável para evitar todo o tipo de abusos e garantir um crescimento sereno aos nossos jovens", acrescentou.
Acredita-se que este discurso provém de um reconhecimento indireto do escândalo de abusos que envolveu o bispo Carlos Ximenes Belo.
Belo, que foi anteriormente o chefe da Igreja Católica timorense e galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 1996 por ter sido fundamental para a independência do país da Indonésia em 2002, demitiu-se abrutamente no mesmo ano, alegando problemas de saúde. Foi enviado para Moçambique para trabalhar como missionário antes de se mudar para Portugal.
Foi secretamente proibido pelo Vaticano de ter o com crianças, ou com Timor-Leste, na sequência de alegações de que teria abusado sexualmente de rapazes menores de idade durante um período de 20 anos, que acabaram por ser tornadas públicas e reconhecidas pelo Vaticano em 2022.
Após o seu discurso no Palácio Presidencial, o Papa encontrou-se com crianças com deficiência na Escola Irmas Alma em Díli, capital de Timor-Leste, onde foi recebido calorosamente pelas freiras e pelas crianças.
Mais tarde, chegou à Catedral da Imaculada Conceição em Díli, onde se encontrou com funcionários religiosos, seminaristas e catequistas.
O Papa Francisco realçou a “aurora de paz e liberdade” de Timor-Leste após um período de “dias sombrios e difíceis”.
Lembrou também a resiliência e a fé do povo timorense que nunca perdeu a esperança durante o período “dramático” da luta pela independência.
Timor-Leste é o país mais católico fora do Vaticano. Os seus habitantes estavam ansiosos por acolher o primeiro Papa a visitá-los enquanto nação independente. O último Papa a visitar o país foi João Paulo II, em 1989, ainda o país estava sob o domínio indonésio.
Por fim, o Papa Francisco elogiou também os esforços timorenses "para alcançar a plena reconciliação com os [seus] irmãos e irmãs na Indonésia”.
Esta é a terceira paragem do Papa na sua viagem de 12 dias pelo sudeste asiático e Oceânia, tendo visitado anteriormente a Indonésia e a Papua Nova Guiné.
Depois de Timor-Leste, Francisco visitará Singapura antes de regressar a Roma a 13 de setembro.